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(Texto publicado na VISÃO Biografia do último trimestre de 2019)
Há dois anos, quando celebrou os 99 anos de idade, foi ao Museu do Fado a convite da diretora, Sara Pereira, falar do seu percurso perante um auditório onde não cabia nem mais uma agulha. Ali, estavam todas as gerações do circuito fadista, a história viva lado a lado, dos consagrados, como João Braga, ao prodígio de 16 anos chamado Gaspar Varela, guitarrista e bisneto de Celeste Rodrigues. Sim, os genes não mentem. Joel Pina apenas lamenta que a nova geração de executantes e apreciadores de fado não tenha podido ver e ouvir Amália Rodrigues em palco, sobretudo até 1980, altura em que ela teve graves problemas de saúde, detetados após uma atuação no Casino Estoril em 1979. Aí, sim, perceberiam a razão de ele ainda viver fascinado com um privilégio assim.
João Manuel Pina nasceu no Rosmaninhal, concelho beirão de Idanha-a-Nova, a 17 de fevereiro de 1920, escassos meses antes da fadista com quem correria mundo durante quase três décadas. Começou no bandolim e ouviu os primeiros fados na voz de Maria Alice, a primeira a gravar para a Valentim de Carvalho e mulher do patriarca da editora discográfica. Tocou com Martinho d’Assunção e o conjunto de guitarras de Raul Nery, tornando-se referência da viola baixo no fado, sempre fiel às cordas feitas de nylon revestido, da fábrica Dragão, do Porto.
Amália está no seu pedestal, mas Maria Teresa de Noronha, Tony de Matos, Fernando Maurício, Teresa Tarouca, Cristina Branco, Joana Amendoeira e muitos outros, de diferentes gerações, também ganharam asas tendo-o por perto. “É na cara do Joel que eu vejo como está indo a minha atuação”, dizia Amália. Acompanhar “é dar chão a quem está a cantar”, encolhia-se ele.
Joel Pina ficou de fora daquele que é, para os entendidos, o álbum superlativo de Amália Rodrigues, Com que Voz. “Fizeram muito bem”, concordou. “Gente a mais pode atrapalhar. E as coisas do Alain ficam muito melhor com dois músicos só.”
Foi sem querer e sem pensar. Aos 8 anos, o meu pai comprou um bandolim durante uma viagem a Lisboa, chegou a casa e disse: “Toma, arranja-te!” Fui arranhando aquilo e, ao fim de algum tempo, já começava a purpurar os sons e não largava o instrumento. Conhecia músicas de ouvido e, meses depois, já tocava umas coisinhas. “Agora, aprende lá esta”, pediam-me. Um ano mais tarde, já sabia tocar bandolim e o meu pai mandou-me aprender solfejo. Havia lá, na minha terra, um indivíduo que sabia muito de música. E ensinou-me. No barbeiro, juntava-se muita gente, tocavam-se umas coisas e, um dia, esse meu mestre começou a dizer: “Ele já dá cartas aos mais velhos.” Ele dizia que eu tinha grande intuição musical e um ouvido que ia para além da música. Ainda jovem, vim para Lisboa. Fui tocar com o conjunto de guitarras do professor Martinho d’Assunção, onde aprendi muita música. Guitarra e viola, sobretudo…
Tocava guitarra e tocava viola, mas faltava-me aprender viola baixo. Decidi tocar viola baixo porque senti que isso me distinguia; na altura, não havia nenhum no fado – o quarteto do Martinho era de exibição, não era de acompanhamento –, mas não havia onde tocar. Tocávamos uma ópera de Wagner, as danças húngaras, a marcha de guitarras de Schubert, números clássicos. O Martinho era boa pessoa, bom professor. Tinha muitos conhecimentos. Depois, criou-se o conjunto de guitarras Raul Nery, em 1959. Esse era mesmo fadista! Era ele, o Fontes Rocha, o Júlio Gomes e eu. Existiu durante dez anos, tínhamos um programa na Emissora Nacional, mas, depois, andávamos muito tempo fora, com a Amália, às vezes faltávamos e, a dada altura, as nossas vidas tiveram rumos diferentes.
Quando já tinha formação musical de guitarra, viola e solfejo, o dono da Adega Machado convidou-me para tocar nessa casa de fados. Aceitei e fiquei. A Amália Rodrigues era comadre dos Machados, a Maria de Lurdes Machado e o Armando Machado, e, de vez em quando, aparecia por lá. Foi aí que a conheci, talvez em 1950. Simpatizou comigo e eu com ela. Bem, quem é que, nessa altura, não simpatizava com a Amália? [Risos.]
Em 1954, apareceram aí uns franceses que queriam fazer um filme, Os Amantes do Tejo. E a Amália fazia-se acompanhar de dois guitarristas, guitarra portuguesa e viola, mas os franceses quiseram quatro. Em vez de convidarem outro “viola”, ao passarem na Adega Machado, ouviram-me tocar e disseram: “Queremos levar aquele também.” E como precisavam de outro guitarrista, foram à Parreirinha de Alfama, onde estava o Jaime Santos. Ouviram-no tocar e ficaram encantados. Fomos um mês para Paris para fazer o filme, as cenas de interiores foram todas lá. Foi este o primeiro contacto profissional que tive com a Amália Rodrigues. Foi um filme que deu nas vistas. A ela, deu-lhe publicidade pelo mundo fora.
Quando é que começou a viajar para todo o lado com a Amália?
Comecei a tocar regularmente com ela a partir de 1966. A Amália Rodrigues só tinha dois guitarristas, mas foi convidada pelo maestro Andre Kostelanetz, que era um admirador dela, para fazer um concerto no Lincoln Center, em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. O Fontes Rocha, que era guitarrista da Amália há pouco tempo, estava a tocar viola. E foi ele quem sugeriu à Amália Rodrigues que fosse o quarteto do Raul Nery a acompanhá-la. Ela entusiasmou-se e convidou-nos.
Quem eram os compositores que ela mais admirava?
Para ela, o primeiro mestre foi o Frederico Valério, que lhe fez fados de grande categoria. Mais tarde, foi o Alain Oulman. Ele modificou um bocadinho o tipo de músicas, mas eram interessantes também. As pessoas não gostaram muito no início. Os fados do Alain não eram fáceis…
Como era a relação dela com os músicos? Complicada?
Nós gostávamos muito de a ouvir. E isso provocava em nós interesse e entusiasmo. Quando alguém canta mal, a gente quer tocar mas não tem inspiração nenhuma. Ela era ótima para nós! E, fora do palco, nunca havia uma repreensão, era uma grande companheira, sempre preocupada connosco. O hotel onde ela ficava era onde nós ficávamos. Por vezes, íamos fazer-lhe companhia à noite. Sendo alegre, talvez houvesse nela uma certa tristeza. Era a sua natureza. Daí gostar de estar sempre acompanhada. Ela adormecia tarde. Ficávamos até às duas, três horas da madrugada, a conversar, mas, quando já estávamos a ficar com sono, aproveitávamos o momento em que ela passava pelas brasas e levantávamo-nos devagarinho…
Que viagens ou concertos tiveram mais significado para si?
O Japão e Inglaterra foram coisas raras, mas as digressões por Itália também, até aprendíamos as músicas e os dialetos em viagem…
Como foi possível ir à Roménia (1968) e à União Soviética (1969) em plena ditadura?
Através de uma agência em Paris. Contratou a Amália com um mês de antecedência, mas estivemos um ano à espera que se concretizasse. Na União Soviética, era tudo muito esquisito. Nos hotéis, o papel higiénico era feito com faturas de escritório. Só o metropolitano era uma coisa luxuosa. Vimos um atraso muito grande. E até dissemos: “Porque é que o Salazar não abre as portas e deixa os portugueses verem o atraso que isto é? Porque é que ele quer esconder esta realidade? Ele devia era ter interesse em mostrar.” Houve dois espetáculos em que não jantámos e, depois, já não havia o que comer em parte alguma. O nosso cicerone é que arranjou umas sanduíches. Era uma pobreza. Às vezes, eram três horas para nos servirem o almoço. E a comida acabava antes de acabar a fila…
Na Roménia, [o regime] era um bocadinho mais aberto. Também era uma pobreza franciscana, mas as pessoas eram cultas. A pessoa que acompanhava a Amália sabia sete línguas, o marido era médico, mas trabalhavam a 50 quilómetros de Bucareste. Todas as manhãs, iam numa camioneta, cada um para seu lado, e, à noite, encontravam-se em casa…
Houve uma loucura com a Amália na Roménia, não foi?
As pessoas foram esperá-la ao aeroporto! E, depois de a conhecerem, passou a ser uma deusa. Na União Soviética, esteve tudo cheio também. Fomos à Ucrânia, à Arménia, a todo lado. Em Moscovo, foram tantas as palmas que o nosso cicerone, que falava francês, foi chamar-nos ao camarim para ela cantar mais um fado ou dois, quando havia ordens para ser só aquilo que estava programado…
Não, nunca! Não era nada maçador. E quando se é novo, aguenta-se tudo. Ela, às vezes, não tinha dormido quase nada e fazia o espetáculo. Tinha uma resistência… Uma vez, na Roménia, estava constipada e rouca, mas cantou com uma força tal que até os romenos se levantaram. E era muito generosa. Em Paris, uma vez, íamos no carro e ela viu um pobrezinho na rua. Pegou numa nota de 500 francos e disse: “Dê-a àquele senhor.” Quando olhou para a nota, o homem deve ter ficado doido. Ao ver isto, um colega meu virou-se para ela e disse-lhe: “Ó Amália, então vai dar 500 francos a um tipo que, se calhar, é mais rico do que eu?” [Risos.]
Porque disseram que ela era a “cantora do regime”, a “cantora da ditadura”?
Ela nunca fez favores ao regime, é uma injustiça dizerem isso. Completamente! Há pessoas que, por causa da política, são capazes de gostar ou de odiar alguém e fazem-no sem olhar ao talento. Ela podia ter as suas simpatias e gostava muito de sossego, de tudo o que fosse rebuliços não gostava, mas, quando estávamos a preparar-nos para ir ao Brasil, ela foi ao Secretariado Nacional de Informação, o SNI, pedir dinheiro para poder levar mais dois guitarristas, embelezar o espetáculo e honrar o País. E lá, disseram-lhe: “Só podemos pagar um.” Sabe o que ela respondeu? “Se só têm dinheiro para um, então, também não preciso.” Recusou e pagou tudo do próprio bolso. Isto passou-se no outro regime e negaram-lhe auxílio à mesma.
O meio fadista gostava dela ou invejava-a?
Quem tinha pretensões a ser grande artista, não gostava da Amália Rodrigues. Onde ela chegasse, apagava tudo.
Havia, no País, a real noção da importância dela no estrangeiro?
A Amália Rodrigues foi das pessoas mais importantes do mundo na música. E muita gente ainda não sabe. Ela fez parte das quatro ou cinco grandes vozes do planeta. Nem eu sabia verdadeiramente, agora é que tenho refletido melhor sobre aquilo que ela foi e representou em todos os países por onde passou…
Na Argentina, houve um médico que aprendeu a falar português por causa dela. Da última vez que lá estivemos, estava a trabalhar a mil quilómetros de Buenos Aires e veio de propósito para nos ouvir, pois tinha feito uma promessa a si próprio: “Eu vou aprender a falar português para entender tudo o que esta mulher canta.” Uma vez, um velho amigo dela foi visitá-la ao hotel e entregou-lhe um livro de um escritor sobre as oito mulheres que amou no mundo. Uma delas era a Amália.
Nos amores, falou-se muito de Ricardo Espírito Santo…
O Ricardo Espírito Santo tinha uma grande paixão por ela. Ele, quando encontrava o Santos Moreira, “viola” da Amália, dizia-lhe logo: “Quando quiser, apareça lá pelo banco.” Ele chegava, anunciava-se e era logo recebido. O Ricardo Espírito Santo fazia isso porque gostava sempre de contactar as pessoas que eram íntimas da Amália, de estar por perto. Até comprou um prédio no Miradouro da Senhora do Monte à irmã mais nova da Amália, a Detinha. Ela vinha cá muitas vezes, mas o marido, o César Seabra, uma vez, disse-lhe: “Mas isto aqui é algum hotel? Estão aqui constantemente!” E ela zangou-se…
O João Belchior Viegas, da Valentim de Carvalho, é que tratava das escritas todas. Fazia os contratos, lidava com os estrangeiros, tratava dos bilhetes, arranjava o dinheiro. Foi um grande auxiliar. A Amália era muito desorganizada, mas tudo lhe corria bem. Os génios têm sempre uma pancada. [Risos.] Ela chegava a combinar cinco almoços e faltava a todos, esquecia-se, mas, em todas as conversas onde estivesse, ouvia e guardava tudo. A cultura é aquilo que fica.
O que recorda de mais simbólico da sua vida com Amália Rodrigues?
Toquei 29 anos com ela. Logo a seguir, foi o Carlos Gonçalves, 26 anos. Foi a melhor vida que podia imaginar-se. Não houve nada mais bonito, mais perfeito, mais maravilhoso do que isto. Tudo do melhor, tudo no meio da música. E ela não se coibia de nada. Ao contrário do que dizem, ela não gostava de vinho, mas gostava de beber para brindar e gostava de alegria à volta dela. E todas as benesses, todas as atenções que tinham com ela se refletiam em nós. Os embaixadores diziam que ela é que era a embaixadora do País.
Liverpool FC vs. Everton FC – 20/02/2021

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O próximo sábado está recheado de grandes jogos em terras de sua Majestade, e partir das 17:30, teremos em Anfield, o “Mersyside Derby”, entre os eternos rivais Liverpool, e Everton, a contar para a 25ª jornada da Premier League. Esta partida terá contornos e particularidades muito diferentes em relação a um simples jogo do campeonato, já que as equipas partilham uma mística de rivalidade enorme entre si.
Com apenas 3 pontos de diferença na tabela, a vantagem pende para os da casa, mas em caso de vitória, e por ter menos um jogo que o adversário, o Everton tem aqui uma oportunidade de ouro para tentar terminar a Premier League á frente do seu maior rival.
As equipas estão neste momento afastadas por apenas 3 pontos na tabela da Premier League, com vantagem para o Liverpool que ocupa a 6ª posição com 40 pontos, onze vitórias, sete empates e seis derrotas. O Everton está na 7ª colocação, com 37 pontos, onze vitórias, quatro empates e oito derrotas. No entanto, o Everton tem um jogo a menos.
Depois de uma sequência de 3 derrotas consecutivas na Premier League, Jurgen Klopp parece ter-se inspirado na visita ao seu pais de natal, e conseguiu fazer com que o Liverpool regressasse às vitórias, no terreno dos alemães do RB Leipzig, por 2-0. No entanto, a verdade é que o encontro apenas teve estes contornos, devido a dois erros crassos da defesa do Leipzig, que ambas as jogadas que deram golo, permitiram que os marcadores, neste caso, Sane e Salah, se vissem isolados na frente do guarda-redes. Antes, e depois dessas falhas defensivas, o Liverpool foi mais uma vez uma equipa “pobre de espirito”, e sem ideias, com o cansaço é ser notório. Ainda assim, acreditamos que este triunfo possa surtir efeitos positivos nos reds.
Do outro lado do rio Mersyside, mora a equipa do Everton, que vem de duas derrotas consecutivas em casa para a Premier League. Primeiro frente ao Fulham por 2-0, e na última quarta-feira, em jogo de acerto de calendário respetivo á 16ª jornada, perdeu por 3-1 frente ao Manchester City. No entanto, é fora de casa que os Toffees apresentam melhores resultados. Como visitante, o Everton não perde há 7 jornadas consecutivas, e foi a Old Trafford empatar a 3 bolas frente ao United na última partida longe de Goodison Park. Mas Anfield é perto, muito perto, e estes números não devem ser levados em conta, já que o Everton não vence na casa do rival Liverpool desde 1999.
Neno recorda triunfo mítico do Benfica sobre o Arsenal: “Os ingleses aplaudiram-nos de pé”

Novembro de 1991. O Benfica visita o Arsenal e o lendário (e agora já demolido) Highbury Park na segunda mão da segunda eliminatória da Taça dos Campeões Europeus 1991/92 (a última antes de ganhar a denominação de Liga dos Campeões e a primeira a contar com uma fase de grupos). Na primeira mão, um empate 1-1 no velhinho Estádio da Luz não abria grandes perspetivas. Mas as 'águias' acabariam por vencer por 3-1 em Londres, num jogo verdadeiramente mítico, conseguindo a sua primeira vitória de sempre em solo inglês e garantindo então presença nessa tal fase de grupos.
Na baliza de um Benfica orientado por Sven-Göran Eriksson estava Neno, hoje embaixador do V.Guimarães, que em dia de novo frente a frente das 'águias' com o Arsenal recordou ao SAPO Desporto esse embate de 1991 e perspetivou a partida de mais logo, que será jogada em Roma, mas com o Benfica como anfitrião.
A certeza da vitória e o estádio que quase veio abaixo com Eusébio
Sempre bem disposto, o antigo guarda-redes, que ao longo da sua carreira disputou 133 jogos pelo Benfica, começa por recordar algumas histórias curiosas dessa eliminatória.
"Lembro-me que empatámos aqui em casa 1-1 e obviamente que a nossa tarefa lá era um pouco difícil, porque o Arsenal tinha uma equipa espetacular: o David Seaman, guarda-redes da seleção inglesa, o Tony Adams. tinham o sueco Limpar, um gajo chamado Kevin Campbell que era muito perigoso, o Paul Merson. Era uma equipa fabulosa", sublinha.
Neno, ainda assim, diz que transbordava confiança para a partida da segunda mão, mesmo sabendo que o Benfica tinha de fazer o que nunca antes tinha feito: ganhar em Inglaterra.
"Eu era muito brincalhão, estava sempre a brincar e amava o futebol. E Sabendo que ia jogar, estava feliz. O Vítor Paneira veio falar comigo na manhã desse jogo, durante o passeio que demos no parque, e disse-me: 'Ó velho, estás muito sorridente. E eu lembro-me de lhe responder: 'Eh pá…sei que hoje vamos ganhar esta m…'."
E ganharam mesmo. Mas não foi fácil. Antes, porém, Neno faz questão de lembrar outro momento marcante desse jogo, ainda antes do apito inicial.
"O Eusébio pisou o relvado do estádio e o estádio parece que vinha abaixo."
"Antes do jogo o Eusébio pisou o relvado do estádio e o estádio parece que vinha abaixo. Nós ficámos pasmados. Sabíamos o que o Eusébio era cá, mas não tínhamos noção da dimensão do reconhecimento do Eusébio em Inglaterra. E acho que isso nos deu ainda mais força", sublinha.
As coisas até nem começaram bem. "Nós começámos mal o jogo, muito retraídos, o Kulkov estava a jogar a defesa direito e eles acabam por fazer o 1-0 num remate em que eu faço uma grande defesa e, do canto, resulta o golo do Arsenal. Eles fazem o 1-0 e nós encaixámo-nos. Isto porque o Erikson tinha começado com três centrais e nós não saíamos de lá de trás. Então ele mete o Paneira a defesa direito", relembra Neno.
"E a partir daí todos os jogadores foram fantásticos. A equipa começou a desenvolver-se, a criar perigo, apesar de eles continuarem com aqueles cruzamentos para a nossa área, que era o futebol deles na altura", conta o antigo guarda-redes internacional português.
Aplaudidos de pé pelos adeptos do Arsenal
O jogo, de tão memorável, está ainda bem presente na cabeça de Neno. "Depois o Isaías faz o 1-1, na primeira parte ainda, e a nossa equipa estava a crescer bastante. Acabou 1-1 e fomos para o prolongamento. Mas o ambiente no estádio era fantástico, porque o jogo estava a ser muito bonito. Nós atacávamos, eles atacavam, o Isaías fez um jogão, um foi um espetáculo tremendo. Vamos então a prolongamento e o Kulkov acaba por fazer o 2-1, com um grande golo e depois o Isaías mata o jogo", relembra.
"Ganhámos 3-1 e lembro-me bem que, quando o jogo acaba, nós a comemorar o os ingleses cabisbaixos, e o estádio todo começa a aplaudir-nos, a bater palmas de pé não só aos jogadores deles, mas também aos jogadores do Benfica. O estádio todo em pé bater palmas quando saímos. Foi memorável. Um reconhecimento que nunca tínhamos presenciado: adeptos da equipa adversária a aplaudirem-nos era anormal", confessa.
E, no regresso a Portugal, mais aplausos. "Depois milhares de adeptos à nossa espera no aeroporto, quando regressámos. O favoritismo estava do lado do Arsenal e, afinal de contas, era a a primeira vitória do Benfica em solo inglês. Tínhamos feito História", aponta Neno.
"Foi um dos tais jogos míticos que se recordam para sempre."
Em resumo, um jogo inesquecível para quem jogou e para quem assistiu, diz o antigo guarda-redes.
"Há momentos que ficaram guardados, porque foi um dos tais jogos míticos que se recordam para sempre. Foi um jogo vibrante. Qualquer pessoa que ame o desporto em si deve ter gostado desse jogo, sendo do Benfica, do Sporting, do Porto ou do Guimarães. Houve tudo, houve festa e o futebol é isso mesmo: É o que emana não só dos jogadores, mas do público, da envolvência, dos comentadores a vibrarem com os golos que íamos fazendo", salienta Neno.
Muitos elogios a Isaías e a um Erikson que é diferente de Jorge Jesus
Destaque nessa eliminatória foi, claro, Isaías, autor de três golos. Neno relembra com carinho o brasileiro e a sua forma de jogar.
"O Isaías, pouca gente lhe dava importância, mas ele tinha uma importância tremenda e só no fim é que as pessoas lhe começaram a dar aquele valor. Mas nós, colegas, entendíamos como ele era importante e como ele jogava. Sabíamos que ele ia rematar 6, 7 vezes, mas que um desses remates ia acabar por ir à baliza e entrar. Ele tentava sempre", recorda.
"Na altura costumava ficar com ele – e o Yuran, o Kulkov e o Rui Costa – a defender remates deles no final dos treinos. Hoje isso já não se vê, hoje o futebol é muito por parcelas. Fazes 15 minutos aqui, depois outros 15 daquilo. Nós éramos mais pela nossa arte. O futebol perdeu um pouco dessa magia, mas claro que não perdeu o encanto", frisa o ex-guarda-redes.
"O Erikson era um gentleman. Como treinador, poucos jogadores poderão falar mal dele"
Preponderante foi, também, claro, o treinador, Sven-Göran Eriksson, um 'gentleman', nas palavras de Neno.
"O Erikson era um gentleman. Como treinador, poucos jogadores poderão falar mal dele. Nada de gritos, falava muito pausadamente e falava de uma forma a que nós compreendíamos bem o que ele queria dizer. E conseguiu mudar o futebol português. Às vezes esquecemo-nos muito disso. Trouxe muita coisa lá de fora, como os alongamentos, ou até beber água no meio dos treinos", assinala Neno.
O agora embaixador do V.Guimarães, clube onde terminou a carreira, recorda uma história lendária do treinador sueco. "Há até aquela história engraçada, quando ele chega e no início da época vê os jogadores todos de sapatilhas para irem correr para a mata do Estádio Nacional e ele vê, chama o Humberto Coelho, que era o capitão, e pergunta o que era aquilo, no italiano dele. O Humberto explicou que iam correr e o Erikson perguntou quem era o melhor corredor português. Carlos Lopes? Então correr é para o Carlos Lopes. Nós estamos aqui para jogar à bola. E meteu-nos a correr, mas com bola.
Um estilo que será bem diferente do do atual treinador do Benfica, Jorge Jesus, reconhece Neno.
"Não gosto de fazer comparações, mas do que conheço do Jorge Jesus, porque ele foi treinador do Vitória quando eu era aqui diretor, e ele era também diferente do que é agora, em termos de estilo o Erikson era muito mais tranquilo, muito mais na dele, a falar de uma forma mais pausada, tocando nos pontos essenciais. Era de falar pouco, era mais de trabalhar e tinha um grande adjunto que era o Toni. O Jesus tem a sua forma de ser e de estar e o Erikson tem a sua. São pessoas diferentes, não há pessoas iguais e não há uma que seja melhor do que outra. Cada um é como cada qual e o futebol também mudou, o futebol hoje também é outro", sublinha.
Neno confiante em novo sucesso do Benfica sobre o Arsenal
Olhando para a partida desta noite, Neno acredita numa vitória das 'aguias'. "Tenho sempre as expectativas muito altas e penso que o Benfica tem todas as condições para vencer o jogo esta noite. Os jogadores têm é que acreditar e têm é de trabalhar. Não vai ser um jogo fácil, mas essa história de não ser fácil já é um discurso retórico do futebolista. Nós todos dizemos e sabemos isso: não há jogos fáceis.
"Acredito que o Benfica tem todas as condições para passar o Arsenal"
Assim, Neno dá a receita: "É acreditar, ter confiança neles próprios e divertirem-se. Porque o futebol é diversão e acho que quando somos felizes com aquilo que fazemos as coisas saem naturalmente, por isso acredito que o Benfica tem todas as condições para passar o Arsenal".
Neno reconhece que o favoritismo talvez até esteja do lado dos londrinos, mas que isso até pode dar ainda mais força ao Benfica. "O Arsenal é capaz de ter uma certa ascendência, mas é aí que o Benfica poderá ganhar força: ganhar àqueles que que estão à nossa frente e que dizem que são melhores que nós. É daí que vem uma motivação que pode ser fundamental. É preciso acreditar sempre até ao último minuto, algo que os ingleses tinham e agora nós também já começamos a ter", frisa Neno.
A fechar, o guarda-redes lamenta apenas que o jogo seja jogado não só sem publico, mas até em 'campo neutro'.
"Influencia sempre. Nós, jogadores, no relvado, o apoio do público, o incentivo, sempre nas horas boas como nas más, é sempre uma força extra e hoje o jogador não tem isso. Sente-se num jardim sem flores. Ainda para mais jogando num estádio que não é seu. É tudo desconhecido", reconhece Neno.
"Mas são aspetos que se têm de ultrapassar, porque quando o árbitro apitar o pensamento só pode ser o de ganhar. Mas claro que se sente durante o jogo, que estamos num ambiente estranho, sem as referências habituais, que são muito importantes. O futebol está mais pobre por causa disso, mas é o momento que estamos a viver e os jogadores têm de se capacitar que é o momento que temos e não há alternativa", termina o ex-guarda-redes.
Regulação dos cassinos digitais e suas vantagens para o Brasil

O processo de legalização do jogo físico e da regulação dos cassinos digitais está em curso e, em breve, deverá haver uma nova lei sobre os jogos de azar. Mas, afinal, que vantagens traz essa mudança para o Brasil?
Hoje, sem jogos físicos permitidos no Brasil, os jogadores brasileiros preferem jogar num cassino online que integre as melhores ferramentas de Inteligência Artificial, tenha a oferta dos jogos de azar de que mais gosta e cuja reputação ofereça uma sensação de segurança. Dessa forma, websites como o Royal Vegas Casino se tornam interessantes, devido a sua vasta oferta de jogos e ao modo como garantem a proteção dos dados de seus utilizadores.
Como provavelmente você já sabe, a lei que rege os jogos de azar no Brasil é bem antiga e, além de não permitir os jogos físicos, não contempla o mundo digital (que não estava, na época da criação da lei, ainda desenvolvido).
A revisão da legislação, perante as mudanças sociais e culturais que a tecnologia propiciou, se tornou fundamental. Assim, já no governo de Temer foi iniciado um processo para que a lei em torno dos jogos fosse revisada.
Durante a campanha de Bolsonaro, esta foi também uma preocupação várias vezes referida e, desde sua eleição, o processo tem sido amplamente debatido, sendo esperado que novidades se traduzam em lei já no próximo mês de julho.
As motivações para a aplicação de uma nova regulação são diversas e seus benefícios podem ser visíveis para o Brasil. Venha conhecer as principais vantagens de um mercado legal e regulado para nosso país:
1- Estímulo da economia nacional

A economia brasileira tem, como todos sabemos, sofrido altos e baixos ao longo do tempo mas, ainda assim, é inegável que a crise exista e se venha perpetuando pelos anos.
Ao tornar o mercado de jogos de azar legal e o mundo dos jogos digitais regulado, o governo passa a ter uma nova forma de receita, mediante a tributação dos operadores e empresas que gerem esse mercado.
A tributação proveniente desse setor poderá, então, ter um impacto positivo nas finanças brasileiras, motivando o crescimento econômico.
2- Promoção da segurança dos usuários
A legalização do jogo poderá (ou assim é esperado) reduzir o índice de espaços de jogo ilegal no país, quer a nível digital quanto físico.
Ao eliminar esses espaços, os jogadores brasileiros terão um leque de jogos seguros à sua disposição, podendo exercer essa atividade com tranquilidade, em segurança e conhecendo seus direitos e deveres, de forma clara e transparente.
3- Reforço do Brasil enquanto destino turístico
Um dos tipos de turismo que virou tendência no século XXI foi o turismo de cassino. Cada vez mais, os amantes de jogos de azar escolhem destinos com cassinos para fazer suas férias, optando até, muitas vezes, por resorts que integram essas estruturas.
Ao permitir os jogos de cassino, o Brasil poderá, assim, estar também a reforçar o seu papel enquanto destino turístico, atraindo um novo tipo de viajante para seu seio.